Saúde

Baixa adesão à PrEP na Bahia expõe gargalos nos serviços e desconhecimento sobre risco de HIV

15 de Dezembro de 2025 -Redação Cabula agora
[Baixa adesão à PrEP na Bahia expõe gargalos nos serviços e desconhecimento sobre risco de HIV]

Foto: Ana Clara Pires / Bahia Notícias

O debate sobre as estratégias de prevenção ao HIV tem ganhado novos contornos com a ampliação do acesso à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e à Profilaxia Pós-Exposição (PEP). Para o infectologista Alessandro Henrique Tavares, do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), compreender corretamente o papel de cada uma dessas ferramentas é fundamental para reduzir novas infecções no estado.
Segundo o especialista, embora ambas sejam voltadas à prevenção, PrEP e PEP atuam em momentos distintos. A PrEP é indicada para pessoas que apresentam risco contínuo de infecção, mas que não tiveram uma exposição recente ao vírus. Já a PEP deve ser utilizada após uma situação concreta de risco, ocorrida em até 72 horas, como relações sexuais sem preservativo, rompimento da camisinha ou acidentes ocupacionais com material biológico. O tratamento dura 28 dias e deve ser iniciado o mais rapidamente possível.
Em ambos os casos, a testagem negativa para HIV antes do início da medicação é obrigatória. A medida evita erros diagnósticos e garante que pessoas que já estejam infectadas sejam encaminhadas imediatamente para o tratamento adequado. Tavares destaca que não é incomum que usuários procurem a PrEP sem saber que contraíram o vírus recentemente, o que reforça a importância da testagem e do acompanhamento clínico rigoroso.
Um dos pontos mais debatidos em torno da PrEP é a ideia de que seu uso levaria ao abandono do preservativo. O infectologista contesta essa percepção, afirmando que ela não se sustenta cientificamente. Ele cita estudos realizados no Brasil e no México com mais de 9 mil participantes, que não identificaram redução significativa no uso da camisinha após o início da PrEP. Pelo contrário, os dados mostram perfis diversos de usuários, incluindo aqueles que mantêm ou até ampliam o uso do preservativo.
Nesse contexto, a PrEP integra a chamada “mandala de prevenção”, que reúne diferentes estratégias complementares: preservativos, PEP, PrEP, testagem frequente, tratamento de infecções sexualmente transmissíveis, vacinação contra hepatite B e HPV, além do tratamento adequado das pessoas que vivem com HIV. A combinação dessas medidas fortalece a proteção individual e coletiva e orienta o acompanhamento clínico oferecido aos usuários.
O protocolo de acompanhamento prevê retornos regulares. Após o primeiro atendimento, o paciente retorna em 30 dias para fechamento da janela imunológica. Em seguida, as consultas passam a ser trimestrais e, após um ano de adesão adequada, tornam-se semestrais. Durante todo o processo, são monitoradas possíveis infecções sexualmente transmissíveis e eventuais efeitos adversos dos medicamentos.
Apesar dos avanços, a adesão à PrEP na Bahia ainda é considerada baixa. Estima-se que menos de 20% do público elegível esteja em uso da profilaxia, percentual distante do observado em cidades referência mundial, como Sydney e Nova York. A demanda, segundo Tavares, supera a capacidade atual dos serviços, mesmo com esforços de expansão e capacitação.
Além da limitação estrutural, o desconhecimento sobre a própria vulnerabilidade segue como um dos principais entraves. Muitas pessoas não se reconhecem como estando em situação de risco, o que dificulta a busca pelo serviço. O preconceito também pesa: ainda há quem associe o uso da PrEP à promiscuidade, afastando potenciais usuários.
Grupos historicamente mais vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo, usuários de drogas, população privada de liberdade e jovens com menos de 30 anos, concentram maior atenção dos serviços. O Cedap, que é referência estadual, também mantém iniciativas específicas, como o ambulatório trans, buscando ampliar o acesso, reduzir o estigma e garantir cuidado integral.
Para o infectologista, ampliar o debate público, fortalecer campanhas de informação e combater preconceitos são passos fundamentais para aumentar o alcance da PrEP e avançar na prevenção ao HIV na Bahia.

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